Quinta-feira, 28 de Maio de 2009
CIÊNCIA BRASILEIRA EM NOVO PATAMAR
Fonte: Sergio Machado Rezende(*), Folha de São Paulo de 25.05.2009
O aumento do número de artigos publicados do Brasil, proporcionalmente
maior que o do resto do mundo, consolida uma tendência
COMO NOTICIOU esta Folha no último dia 6, a produção científica do Brasil,
medida pelo número de artigos indexados na base internacional de dados
Thomson Reuters-ISI, cresceu 56% em 2008, se comparada com 2007. O país
passou da 15ª para a 13ª colocação no ranking mundial de artigos
publicados, ultrapassando países com longa tradição científica, como a
Rússia e a Holanda.
A notícia foi comemorada pela comunidade científica brasileira, que conta
atualmente com 200 mil membros, entre mestres e doutores.
Mas a formação, como é feita hoje, com exigências de cursar disciplinas e
fazer pesquisa para elaborar dissertações e teses, só foi iniciada em
1963, quando o professor Alberto Luiz Coimbra criou "na marra" a
Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia (Coppe) na então
Universidade do Brasil (hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Somente cinco anos depois o Ministério da Educação regulamentou a
pós-graduação, "legalizando" os diplomas concedidos pela Coppe e por
outros cursos. E apenas em 1969, com a criação do regime de tempo integral
para docentes pesquisadores, os grupos de pesquisa e os cursos de
pós-graduação se disseminaram em todo o país e o sistema nacional de
ciência e tecnologia (C&T) começou a ganhar dimensão e consistência.
O fato de a nossa ciência ser tão recente é a principal razão para a
surpresa da notícia de que o Brasil ultrapassou Rússia e Holanda no
ranking de publicações científicas. Mas esse fato não teve comemoração
unânime. Logo surgiram os céticos e críticos perscrutadores.
A primeira crítica é que a ciência brasileira não tem o impacto medido
pelas citações na mesma proporção dos artigos publicados. Isso é verdade e
decorre, dentre outras razões, da pouca tradição de nossa ciência.
Outra crítica, mais forte, foi a descoberta de que o grande aumento da
produção de um ano para outro decorreu da ampliação da base da Reuters. O
número de revistas brasileiras indexadas passou de 63, em 2007, para 103,
em 2008.
No entanto, a Reuters também aumentou a base das revistas indexadas de
todos os países, principalmente daqueles fora do núcleo de longa tradição
científica. Em todo o mundo, a base passou de 9.000 para mais de 10 mil, e
o número total de artigos indexados cresceu de 960 mil, em 2007, para 1,4
milhão, em 2008 -um salto de 49%.
O aumento do número de artigos do Brasil, proporcionalmente maior que o do
restante do mundo, vem consolidar uma tendência das três últimas décadas.
A contribuição do país na produção mundial, que em 1981 era de 0,44%, hoje
é de 2,12%. O aumento na formação de pesquisadores e no número de artigos
científicos publicados é resultado de um esforço continuado de toda a
sociedade. Mas o governo federal teve papel essencial nesse processo,
principalmente por meio de suas agências de fomento, CNPq, Finep e Capes.
Assim, compartilho da opinião do ministro da Educação, Fernando Haddad,
que creditou essa evolução ao governo federal, mas também ao papel das
fundações estaduais de amparo à pesquisa, em especial da Fapesp, e ao
trabalho dos cientistas. A significativa evolução dos últimos anos é
decorrente, em grande parte, da prioridade hoje atribuída à ciência e à
tecnologia.
O orçamento do Ministério da Ciência e Tecnologia passou de R$ 2,835
bilhões, em 2002, para R$ 6,632 bilhões, em 2008. Nesse mesmo período, o
número de bolsas de pós-graduação do CNPq passou de 11.347 para 18.500, e
as de pesquisa passaram de 7.765, em 2002, para 12.015. No caso da Capes,
as bolsas de pós-graduação passaram de 23.334, em 2002, para 39.892.
Pela primeira vez na história, o país tem um Plano de Ação em Ciência,
Tecnologia e Inovação, com prioridades claras e programas com objetivos,
metas e orçamentos, o s quais totalizam R$ 41 bilhões para projetos em
universidades, centros de pesquisa e empresas.
O financiamento à pesquisa científica e tecnológica e à inovação tem
estimulado pesquisadores e empresários empreendedores. Um exemplo do
aperfeiçoamento dos instrumentos de apoio e da política de C&T está na
criação dos 123 institutos nacionais de C&T, que receberam recursos da
ordem de R$ 605 milhões. O caminho para tornar esse setor um dos pilares
do desenvolvimento nacional ainda é longo, mas está sendo percorrido com
consistência, determinação e velocidade crescentes.
(*) SERGIO MACHADO REZENDE, 68, físico, doutor em física pelo MIT (EUA),
professor titular da Universidade Federal de Pernambuco, é Ministro da
Ciência e Tecnologia.
Notícia: Ciência Brasileira...